Hino homérico a Hermes:
1. Nascimento
Cantai, ó Musa, a Mercúrio, progênie de Zeus e de Maia,
De Cilene Senhor, rei da Arcádia abundante em rebanhos,
Benfeitor, mensageiro dos deuses, nascido de Maia,
A de belos cabelos, unida em amor a Zeus Crônio,
Veneranda. Ela, ausente da turma dos deuses beatos,
Numa umbrosa caverna morava, onde o filho de Cronos
Misturava-se à ninfa de belos cabelos, noite alta,
Quando o sono ocupava a divina de cândidos braços,
Hera, oculto dos deuses do Olimpo e dos homens mortais.
Quando o tempo chegou de cumprir-se a vontade de Zeus,
Já passados dez meses ao longo do tempo no céu,
fez a luz revelar que façanhas ilustres fizera!
E eis que um filho nasceu industrioso, em mil treitas esperto,
Predador, condutor de rebanhos, ministro dos sonhos,
Espreitante da noite, vigia das portas, que iria ostentar
os seus ínclitos fastos aos deuses eternos beatos.
Matutino, já no meio-dia tocava da cítara,
E, de noite, o rebanho roubava de Apolo dardeiro.
E depois que dos flancos da madre surgiu imortais
Muito tempo no berço sagrado ele não ficaria.
E em busca das vacas de Apolo, imediato transpôs
A portada de sua caverna de altíssimo teto.
2. Inventividade: invenção da cítara
Foi aí que encontrou um quelônio, que felicidade!
Hermes foi o primeiro a tornar instrumento um quelônio
Que encontrou sobre o sólio das portas em frente à caverna
A pastar ante a casa, no pasto, de grama florido,
Com seus passos morosos. O filho de Zeus, benfeitor,
Viu e riu e, em seguida, as seguintes palavras lhe disse:
"Um sinal muito caro, em verdade, não vou desprezar!
Salve, pois, cousa amável, ritmada, hetaíra das festa,
Que alegria te ver! De onde vem esse lindo brinquedo?
Carapaça tu és, tartaruga que vive nos montes!
Já te apanho e levo-te pra casa. Dar-te-ei serventia.
Desprezar-te não vou. O primeiro vou ser a quem serves!
Estar em casa é melhor, pois na rua se encontra a ruína!
Proteção contra o mal da magia decerto serias
Se vivente; se morta, no entanto, mui bem cantarás!
3.a-) Um lugar para o furto.
"Aqui vens, de impudência vestido? E eu agora pressinto
Que, nos laços que leva na cinta insolúveis e fortes,
brevemente este umbral passarás preso ao filho de Leto,
Te furtando do espaço entre montes e vales que roubas!
Mas qual nada! Teu pai te gerou para seres tormento
Para os homens mortais e também para os deuses eternos."
Então, Hermes esta hábil resposta à mamãe proferiu:
"Minha mãe, por que falas-me como se eu fosse um menino
Pequenino, a cabeça repleta de boas querências,
Timorato, um menino a ter medo das rusgas da mãe?
Bem agora! O que eu quero é me dar à melhor dentre as artes!
De só vez me bastar e bastar-te, não sós entre os deuses
Imortais, sem presentes e of´rendas, sem invocações,
E isolados pra sempre ficarmos, assim como queres.
Bem melhor é viver para sempre entre os deuses eternos
Muito rico, opulento, punjante, que em casa viver,
Em um antro sombrio! A respeito das honras eu bem
Delas mesmo cuidei de prover, como aquelas de Apolo.
Se a meu pai não preocupa que eu tenha, garanto que eu mesmo
Tentarei (sei que posso!) tornar-me rei dos bandidos!
Se o glorioso rebento de Leto pegar-me procura,
Eu farei com que causa maior aconteça de oposto,
Eu irei a Piton arrombar sua vasta morada:
Incontáveis e lindos tripés, caldeirões excelentes:
Pilharei seu tesouro, co´as peças de ferro esplendente,
Muitos ricos estofos! Já tudo verás, se quiseres."
3b-) Um lugar para a mentira.
"Ó tu, filho de Leto, por que esse discurso tão rude?
E aqui vires em casa a buscar tuas vacas agrestes
Nada vi, nada sei, nem ouvi dizer nada a ninguém,
Nem indícios mostrar, já que não valeriam de nada.
Um larápio de bois, homem forte, também não pareço.
Meu trabalho não é esse, outras cousas em vez, me interessam.
O meu sono interessa e interessa-me o leite materno,
Lãs dispostas em volta dos ombros e tépidos banhos.
Que não saiba ninguém, entretanto, a razão dessa rixa!
Grande espanto traria, decerto, entre os deuses eternos
Um bebê recém-nato a cruzar os portais da cancela
A aboiar rude gado; sem senso parece o que dizes.
Nasci ontem, meus pés são macios e a terra é mui dura.
Se quiseres u´a jura farei à cabeça do Pai.
Eu declaro: de modo nenhum poderei ser culpado
Não ter visto ninguém a roubar tuas vacas agrestes,
Quantas vacas que forem. Do assunto só sei por ouvir."
E, no enquanto falava, lançava brilhantes piscadas
Por debaixo dos olhos, fitando por todos os lados,
Suspirando profundo, qual fossem de tédio as palavras.
4- Hermes como guia
Conservando seus panos nos braços sem os descartar,
Então Zeus riu-se muito por ver o pequeno treteiro
A negar com tanta arte e destreza essa estória das vacas.
Em seguida ordenou aos dois filhos que, mentes concordes,
Dessem busca, Mercúrio na frente, entretanto, de guia,
A mostrar o lugar, apesar da malícia na mente,
Onde as vacas de largas cabeças houvera escondido.
Acenou co´a cabeça, e aceitou o glorioso Mercúrio.
Porque é fácil para Zeus, o porta-égide, impor obediência.
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